
— Ela vai se chamar Nébula. Helena disse sem nenhuma dúvida.
— Você acabou de dar esse mesmo nome pra sua outra cachorrinha. Não sabia que você era tão fã dos Guardiães da Galáxia. Leonardo coçou a cabeça, lembrando de um personagem da Marvel.
— É Nébula por causa das nebulosas. Ela disse baixinho.
— Ahn! Ele suspirou. O adolescente entendeu que ela queria prestigiar seu pai, professor de astronomia, de alguma forma. Quando seus pais se separaram, Leonardo, que é quatro anos mais velho do que a caçula, entendeu. A menina nem tanto, achava que seus pais formavam uma dupla imbatível e perfeita, e nunca deixava de fazer campanha pra os dois voltarem.
— Não estou entendendo. A cachorrinha que sua mãe acabou de adotar também não se chama Nébula? Como vão distinguir uma da outra? O pai estranhou. Sim, ela tinha acabado de adotar uma vira-latinha, caramelo, toda espoleta, mas que ficaria na casa da mãe. O pai não quis ficar para trás e os levou para escolher uma segunda cachorrinha, desta vez, com pedigree, um buldogue francês também caramelo. Talvez pelo sentimento de culpa, de não conseguirem realizar o seu maior desejo de continuarem como um casal, os pais começaram a realizar seus mínimos desejos e até competiam entre si tentando agradá-la.
— Ela está cada vez mais esquisita. Cheia de manias. Leonardo, que os acompanhava na jornada de escolher o novo cachorrinho, reclamou. O garoto parecia ser o único a entender que ela estava ficando mimada demais, cheia de vontades esquisitas porque ninguém tinha coragem de dizer não para ela.
— Tinha entendido que essa ia ficar na sua casa. A outra fica na minha. Quando a gente voltar a morar na mesma casa, eu mudo o nome de uma das duas. Ela explicou, como se fizesse algum sentido.
— Pai, fala pra minha irmã que essas esquisitices dela estão ficando cada vez mais ridículas. Leonardo balançou a cabeça.
— ‘Cê não vai dizer que sou ridícula, né? Você não entende. Ela devolveu certeira.
— Não entendo mesmo! Cada coisa que você inventa. Está sempre pedindo coisas! Você já tem sua primeira cachorrinha. A Nébula original. Leonardo disse.
— Exatamente. Essa será a minha segunda. E você só não entende porque não presta atenção em nada do que o papai explica. A irmã cruzou os braços.
— Pronto. Estou pronto pra ouvir. Explica então. O irmão mais velho desafiou.
— Nébula é um nome lindo, Nebula em inglês. O berçário das estrelas. O pai tentou ajudar Leonardo, que realmente não se interessava em nada por esse assunto.
— Perfeito! É por isso que preciso de duas Nébulas. Ela insistiu enquanto seu irmão só encolheu os ombros.
— Eu sei que tem vários formatos de nebulosas no Universo. São nuvens de poeira e gás que formam os desenhos mais bonitos das fotos de astronomia. O menino sabia das coisas quando lhe interessava, e frisou a palavra nebulosa, na versão mais conhecida em português.
— Isso mesmo! Você explicou muito bem. O pai ficou orgulhoso.
— E você sabe como as nebulosas são formadas? A menina desafiou o irmão, com a mais absoluta certeza de que ele não saberia a resposta.
— Nossa, me surpreendeu! Não achei que você tivesse decorado tantos nomes. O pai ficou orgulhoso e a menina ficou mordida. Era ela quem entendia desse assunto e ponto.
— E de onde vêm esse gás e poeira? Ela deu uma pausa para criar suspense. —Vêm das supernovas! Das estrelas que acabaram de morrer explodidas. O pai riu. O jeito da Helena explicar as coisas era engraçado, mas, por mais incrível que pareça, ela tinha acertado. Lógico que essa não era uma resposta única, porque a formação do universo é bem complexa, mas para uma menina de dez anos, estava muito bom. Aquilo que para o professor de astronomia era um sinal de um Universo que se transforma e recicla. Para a menina, eram dois tipos de nebulosas, a do começo e a do final da vida de uma estrela.
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