Vale dos Pinheiros

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Capítulo 7 – Castelo

Esse foi um dia de muita confusão, de disputa pelas almofadas do sofá, travesseiros, cobertores, colchas e toalhas da casa. Os adultos tinham saído, deixando apenas os primos, sozinhos, na casa de praia.

Não estava chovendo, o céu, um pouco nublado, poderia ter dado praia, mas as crianças não estavam autorizadas a ir sozinhas para a praia, sem algum responsável acompanhando, e o Leonardo ia participar de um campeonato online. Juraram se comportar, e o mais velho aceitou ficar responsável pelos menores.

Leonardo poderia ter evitado as brigas e colocado ordem no pedaço, mas estava tão distraído, envolvido pelas tarefas do seu campeonato de videogame, que nem viu as coisas escalarem. Tudo começou com Rafael, decidindo construir um forte ao redor do primo mais velho, como se ele fosse uma estátua. Depois, provocou as meninas, dizendo que era um forte só para osmeninos, bem no centro da sala de TV, interrompendo a passagem.

— E se eu quiser assistir um filme? Helena reclamou.

— Assiste no computador da vovó. Ele disse, empurrando a menina pra fora do tapete.

— Então, também quero ajudar. A menina pediu.

— Hoje não, vocês meninas fazem muito mimimi, hoje sou só eu e o Leo. Ele respondeu, empilhando mais almofadas.

— O Leo tá jogando, nem sabe o que você está fazendo. A menina bufou, deixando o primo sozinho.

Dali a cinco minutos, reapareceu na frente da mesa do jantar, carregando roupa de cama e travesseiros. Tinha convencido Andressa a fazer um palácio de princesa, onde iriam servir chá da tarde com bolo e suco no lugar do chá.

Foi aí que a coisa ficou feia. O menino queria os travesseiros e lençóis delas e elas queriam as almofadas e toalhas deles, quer dizer, do forte do Rafael.

— Eu tive a ideia primeiro e preciso dessas coisas todas que vocês trouxeram pra fazer uma cabana de comando no centro do forte.

— Huff!!! Helena bufou. —Você não me deixou ajudar nem participar, agora vamos fazer uma brincadeira muito mais legal, com comida de verdade, e você ficou com ciúmes. Claro que seu forte nem precisa de cabaninha, mas nós precisamos de paredes pra separar os nossos dormitórios da sala.

— Está na hora de você aprender a dividir as coisas, mamãe vive dizendo isso. Não é tudo seu. Andressa fez um bico, reclamando com o irmão.
Daí pra frente, ninguém conseguiu construir mais nada, só um roubando as coisas do outro e trazendo mais e mais coisas; fosse da cozinha, dos dormitórios, do jardim, para ampliar seus domínios.

Carolina lia quietinha no seu canto, mas seus primos precisavam, desesperadamente, da rede onde estava deitada. Quando eles correram para roubar seu apoio, foi preciso dar um basta:

— Até você, Andressa? A casa estava do avesso! Tudo espalhado: lençóis das camas, toalhas do banheiro e agora,
tinham decidido pegar panelas e potes. Reviraram a cozinha também.

— Foi o Rafael que começou! Ele não quer que a gente ajude na construção do forte! Helena esgoelou.

— A culpa foi delas. Preciso de uma cabana de comando atrás do forte, e elas tiraram tudo de mim pra fazer o palácio.

— Quer dizer que esse é o problema? Carolina fez a pior cara desse mundo. — Por que vocês não transformam o palácio num castelo? A menina sugeriu.

— E qual a diferença? Rafael encolheu os ombros, irritado.

— Nossa, lembrei! Andressa colocou a mão na cabeça. — Castelo é um palácio cercado por um forte!

— Isso! E o que vamos usar pra ser o fosso que protege o castelo? Perguntou Carolina, entrando na brincadeira.

— Tenho uma ideia! Rafael gritou, sumindo pelo corredor. Lógico que tudo isso tinha um potencial explosivo para mais bagunça, mas Leonardo continuava em outra dimensão, passando as etapas do seu jogo.