
Tinha tossido a noite toda, feito inalação e até tomado antibiótico para baixar a febre e diminuir a dor de garganta. Foi por isso que Carolina foi proibida de brincar de futebol de sabão, improvisado com uma lona no jardim da avó.
A menina não se preocupava com nada disso, nem acreditava que ficar seca e quentinha ajudava a combater sua dor de garganta, só estava muito indisposta para se divertir com seus primos. Seguia tranquila, bem instalada na rede da varanda, ao lado de uma caixa de lenço de papel e coberta por uma mantinha leve, apesar do dia quente. Passava o tempo navegando no celular, que sua mãe tinha emprestado.
Pesquisava um assunto muito interessante: os rios aéreos.
Olhou para cima. Estariam passando por ali? Na Internet, diziam que eram invisíveis a olho nu. A menina apertava os olhos para enxergar além das nuvens, da luz do sol, do azul do céu.
As árvores, depois de absorverem água do solo, transpiravam e devolviam essa água como vapor d’água.
Ela riu, imaginando a árvore transpirando, com calor, usando desodorante, esse tipo de coisa.
Depois era a vez do vento. Ele organizava aquela massa de ar cheia de vapor d’água para grandes altitudes e a empurrava por quilômetros. Como eles moravam em São Paulo, pensou na distância que precisavam percorrer, uma vez que eles vinham da floresta da Amazônia, no norte do país.
Em algum momento, eles cansavam de viajar e se condensavam, choviam, irrigando plantações, aumentando a vazão dos rios, espalhando umidade por toda a América do Sul.
Tão longe, tão distraída ela estava, pensando nisso tudo, quando sentiu um furacão passando de bicicleta e derrubando tudo.
— Ra Fa El !!! A menina gritou com sua voz fanhosa e rouca.
Como o menino conseguia aprontar esse tipo de coisa? Tinha vindo correndo com sua bicicleta de uma tal forma que se enganchou na sua rede e derrubou seu refúgio quentinho na lona molhada.
Disso ela não gostava. Quando seu primo aprontava tanto, mas tanto, que não conseguia ficar sossegada nem por um instante. E hoje tinha sido um desses dias.
Suas primas correram para salvá-la. Andressa estava furiosa com seu irmão:
— Rafa! Que ideia foi essa? Ela está proibida de brincar com molhadeira!
— Vovó vai ficar muito brava! Vamos ajudar ela se secar! — Disse Helena, correndo para abraçar a prima com uma toalha.
A irritação de Carolina teve outro motivo. Como nenhuma desgraça acontece sozinha, no reboliço de ter a rede virada e escorregar pela lona ensaboada, acabou deixando o celular da sua mãe escapulir de suas mãos e mergulhar num balde cheio de água com sabão.
— Se o aparelho estragar, a culpa é sua! Ela gritou esganiçada.
— Nunca!!! — Percebendo a situação complicada, Helena correu para resgatar o aparelho enquanto Andressa voou furiosa para cima do irmão, sem saber o que fazer. — Vamos enxugar todas essas bolhas e deixar secar bem sequinho e ele volta a funcionar!
— O Rafa faz mais molhadeira que os rios voadores! Disse Carolina, depois de espirrar umas vinte vezes e enxugar o nariz.
— Rios voadores? — Andressa perguntou — Nunca ouvi falar!
— Também nunca ouvi falar, mas gostei! Tive umas ideias aqui… Riu Helena, enquanto procurava um lugar seguro para deixar o telefone secando.
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