
Se tinha alguém bom em fazer campanha de aniversário, era o Leonardo, irmão mais velho da Helena. Seus planos começavam com muita antecedência — talvez dois meses ou mais —, quando ele começava a cercar principalmente os pais, mas também tios e avós. Seu objetivo era vencer pelo cansaço.
Talvez já estivesse colhendo frutos para este ano, porque, naquela manhã de sábado, Rafael e Helena acompanhavam o pai em uma loja de instrumentos usados. Ainda confuso por não conhecer bem o assunto, o pai procurava a ajuda de um vendedor, enquanto Rafael disparou:
— Olha só essa daqui, que massa! — disse, correndo para uma bateria completíssima, cheia de acessórios e de uma marca famosa chamada Pearl. O menino decidiu que só podia ser aquela. Logo se sentou no banquinho, pegou as baquetas e começou a experimentar.
— Seu filho tem muito bom gosto. Essa é uma das nossas marcas premium, junto da Tama e da Yamaha — elogiou o vendedor.
— Não é filho dele. É sobrinho — corrigiu Helena, abraçando o pai, que quase caiu para trás ao ver o preço. Não esperava por aqueles valores de forma alguma. Afinal, tratava-se de um equipamento de segunda mão, mas o preço era quase o de um carro simples. Ainda sem fôlego, olhou para o vendedor como quem implora por ajuda. Lógico que não queria — nem podia — gastar tudo aquilo. O vendedor entendeu e foi mostrar opções mais acessíveis.
— Que tal esta daqui? Não é de marca famosa, mas está com um preço muito bom. Tem tudo o que ele precisa para começar — sugeriu o vendedor.
— Papi, qualquer uma que você escolher, ele vai amar. Todas são muito melhores do que a eletrônica que ele tem hoje — disse Helena.
— E o que vocês vão fazer com a antiga? Pensaram em dar para alguém? — perguntou Rafael, já interessado.
— Calma, gente, ainda estamos na fase de pesquisa. Nem sabemos direito no que isso vai dar — ponderou o pai.
— Esta daqui, além do bumbo e dos dois tons, vem com pedal de bumbo, baquetas e dois pratos: o de condução e o de ataque. Pelo preço, os pratos estão vindo quase de graça — explicou o vendedor.
O pai abriu um sorriso, porque, desta vez, o preço era viável. Podia até dizer que estava bom. Rafael, empolgado, esqueceu completamente da primeira bateria e começou a testar a segunda. Mesmo todo descoordenado, decidiu que essa estava até melhor do que a anterior.
— E tem alguma outra só um pouquinho mais barata? O Leo ainda vai começar as aulas — perguntou o pai.
— Podemos começar sem os pratos… Depois, vai completando o kit — sugeriu o vendedor.
— Ah, não! Sem os pratos fica meio sem graça — defendeu Helena.
— Posso ficar com a bateria eletrônica, se o Leonardo não for mais usar? — pediu Rafael.
— Ah, Rafa, para de ficar pedindo coisas. O Leo ainda pode escolher passar pra mim, sua querida irmã caçula — sugeriu Helena, com um sorrisinho malandro.
O pai apenas coçou a cabeça. Tinha realmente se enrolado dessa vez. Agora, os três queriam um kit de bateria.
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