
Os primos estavam animados para a festa junina desse ano da escola de Rafael e Andressa, tudo porque ia ser num lugar diferente. O pátio da escola estava passando por uma reforma de emergência e a festa foi transferida para um parque próximo, onde tinha circuito de arvorismo com uma tirolesa no final.
Carolina, maior fã de tirolesa, e Rafael contavam os minutos para a hora da festa, enquanto Andressa estava ocupada, repassando seu papel de filha do dono da fazenda, na encenação do Boi Bumba que sua classe iria apresentar. Helena só queria dançar quadrilha e comer pé de moleque.
Chegando ao parque, cada um correu pra sua atividade.
Andressa foi terminar de colocar a fantasia e rever suas falas. Tinha lutado para interpretar esse papel, justamente porque a sinhazinha, que adorava o boi, forçava o capataz da fazenda a ressuscitá-lo com ajuda de um pajé.
Helena pediu o dinheiro de papel (dinheiro falso que só funcionava na festa) para comprar pé de moleque e Carolina, junto com Rafael, correram para a fila do arvorismo, a mais lotada de todas.
Após ficar enjoada de comer muitos doces, Helena resolveu encontrar seus primos na fila. Sem conhecer muita gente, porque essa festa não era da sua escola, e cansada de rodar à toa. Seu plano nem era furar a fila, nem nada, muito menos subir na árvore porque tinha medo de altura, mas quando chegou perto, acabou se enrolando.
A equipe, com pressa em atender todas as crianças, entrou na linha de montagem coordenada pelos professores, que logo colocaram a cadeirinha de escalada, o capacete e os equipamentos de segurança. Um pouco desesperada, mas sem querer admitir o quanto era medrosa, Helena se manteve firme, como se realmente fosse subir na árvore. Estava prontinha e seus primos a incentivavam:
— Que bom que você tomou coragem! Vai adorar! Comemorou Carolina.
— Eu te ajudo. No começo, você não precisa olhar pra baixo! Ensinou Rafael.
Acontece que a coisa ali era complicada. Por mais que ela quisesse, o emocional não deixou. Foi quando chegou no terceiro degrau, na altura da cintura das crianças, que ela travou e ninguém no universo conseguiu convencê-la a prosseguir.
— Gente, me soltem! Socorro!!! Ela gritava, como se estivesse sendo obrigada a passar algum perigo.
— Tudo bem! Fica para uma próxima! Carolina foi carinhosa e apoiou, mas Helena não poderia esperar a mesma atitude de Rafael.
— Medrosa! Pópópó. Ele imitava uma galinha enquanto a provocava. Helena fez uma cara feia, mas logo se desvencilhou dos equipamentos e correu bem longe dali, buscando a proteção da prima mais velha.
Nos bastidores da apresentação, encontrou Andressa muito compenetrada.
— Posso ficar com você? Não conheço ninguém na festa. Helena choramingou.
— Claro que sim… Mas acho que não vão deixar você participar da presentação porque você nem ensaiou. Andressa a acolheu. — Qualquer coisa, você me espera aqui, nos bastidores.
— Tudo bem, mas talvez eles me deixem fazer o papel de ajudante do pajé. Conheço bem essa história. Disse ela, para não ser deixada de lado.
— Tá certo. O pajé não precisa de assistente. Disse ela, vendo seu amigo, já todo arrumado em suas roupas de penas. A cara de Helena deve ter sido muito ruim mesmo, porque Andressa mudou de ideia. Não conseguia ver ninguém chorando e Helena deixava rolar umas lágrimas sentidas.
— Talvez eles tenham algum cocar sobrando, e você vai calada, fingindo de assistente, seguindo e copiando a dança do pajé. Disse a prima mais velha.
— Eu topo! Helena sorriu.