Vale dos Pinheiros

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Capítulo 20﹘Caixa de Pandora

— Claro que você pode pegar! Minha gatinha querida, pode brincar com a caixa. Riu vovó Tarsila quando Carolina pediu uma caixa de presente que ia para o lixo reciclável. A menina agradeceu e logo sumiu. Correu ao encontro da prima.
— Vê se você acha um tutorial na Internet pra transformar essa caixa de presente na caixa de Pandora. Veja como é que se faz. Pediu para Andressa. Animada em testar as novidades do seu objeto de desejo, a menina logo abriu o programa de buscas, e vieram várias respostas.
— Sabia que, na verdade, a caixa não era uma caixa? Era um vaso grande, tipo daquele que eles guardavam grãos e vinho? Perguntou ela.
— Não sabia, mas faz sentido. Carolina respondeu, se espremendo para olhar a telinha nas mãos da prima.
— E por que você quer refazer um negócio terrível desses? Já tinha ouvido falar, mas não sabia que era assim. Andressa resmungou.
— A minha vai ser bem diferente. Quero guardar boas lembranças. Como a pulserinha de ir no parque de pula-pula.
— O mais certo era você guardar a pulseirinha do dia em que o Rafael quebrou o braço, estava morrendo de dor e teve que esperar muito tempo até engessar. Na caixa de Pandora havia só coisas horríveis. Doença, fome, miséria, traição, injustiça… Ela começou a listar.
— Mas, no fundo, tinha a Esperança. Carolina continuou.
— E aí, apaixonada pelas lendas gregas? Eles achavam a esperança uma coisa ruim? Estava ali por engano? Resolveram dar uma chance pra reverter tudo? Qual é a ideia desse pessoal antigo? Andressa ficou curiosa.
Nesse ponto, Helena e Rafael entraram correndo na sala, suando. Deviam estar treinando capoeira no quintal.
— Também queremos ouvir. Que história você está contando? É de quem? Pediu a mais nova.
— Ela ‘tá falando da caixa de Pandora, que só guardava coisas pavorosas. Você sabia disso? Andressa quis saber.
— Sabia. Até o Rafa sabia, não é? Helena cutucou o primo. Ele concordou com a cabeça, embora não parecesse muito certo disso.
— Então. Não sei a resposta. Sei a minha resposta. Carolina disse.
— E isso pode? Quando a gente faz prova, não funciona desse jeito. Reclamou Rafael.
— Minha resposta é que Esperança é sempre boa. É a chave pra se virar em qualquer situação. Carolina respondeu, confiante.
— Ou não. Pode deixar você só na espera sem chegar a lugar nenhum. Tem uma história assim, uma que eu detesto. A da Menina dos Fósforos. Andressa reclamou. Helena e Rafael não sabiam qual era, mas Carolina já tinha ouvido falar.
— Mas essa é dos contos de fadas, não vale. Os contos de fadas de verdade sempre têm um lado bem assustador. Essa foi a resposta de Carolina, que sorria, orgulhosa.
— E por que não vale? Se a outra vale, essa também vale. Rafael desafiou.
— Sei lá. Não vale e pronto. Carolina perdeu um pouco a paciência. Ela só queria uma caixinha bonita pra guardar coisinhas divertidas, só isso. — Estava pensando em cobrir com papel machê? Será que fica parecendo bem antiga? Vocês vão querer me ajudar ou não?
Só Andressa continuou com ela.