
Foram andando pela areia da praia, até encontrarem o delta do riozinho. A tarde estava agradável e só Helena tinha ficado para trás.
Rafael corria pela praia, aquecendo-se para o treino, enquanto Andressa não poderia estar menos interessada. Não é que não gostasse de nadar, ou de nadar no rio, isso ela adorava. O que ela não se interessava era pela competição.
Seu pai teve a ideia de levá-los para treinar no pequeno rio que desembocava no mar. Isso daria uma vantagem competitiva quando disputassem no torneio do mês seguinte, que seria na raia olímpica. Rafael já contava em ganhar mais uma medalha para enfeitar a estante de troféus.
O plano era passar a tarde toda, e Rui chegou preparado. Tinha levado cronômetro, apito e uma geladeirinha de isopor com suco e sanduíche.
— Eu costumava acampar aqui perto, quando ainda era casado com a mãe de vocês. O pai relembrou. Andressa não conseguiu evitar um suspiro. Entre tantas viagens, os irmãos não conseguiam ver a mãe o quanto gostariam. Percebendo o baixo astral da prima, Carolina interrompeu a conversa.
— Aposto que vamos ver muitos peixes diferentes e caranguejos. Aquele bonitinho, a Maria Farinha, e o outro grande, azul, o Guaianum. Precisava animar a prima falando de animais.
— É Guaiamum que se fala. Muito bonitinho. Andressa sorriu, acelerando o passo, que até ali estava se arrastando, de má vontade.
Chegaram no delta e a água do rio estava mais quente que a do mar. Tinha sido uma manhã muito ensolarada. Sentiam a diferença de temperatura. Uma morna e outra fria.
Apesar de Andressa nadar muito bem, seu pai entendeu que a menina não estava a fim e o treino seguiu apenas com Rafael, sua energia era gigante.
As meninas entraram na água, boiaram no riozinho, mas logo saíram para explorar os arredores, descobrir caranguejos, encontrar aranhas escondidas nas folhas das bromélias, catalogar quais pássaros e insetos encontravam. Carolina adorava as libélulas, mas o que gostava mesmo era de colecionar conchas quebradas. Enquanto todos procuravam as mais perfeitinhas, ela só escolhia as quebradas, tortas e diferentes, gostava dos formatos únicos e não dos óbvios.
E assim passaram a tarde, ouviram o apito no treino do Rafael, tomaram lanche, beberam suco, pediram picolé até o pôr do sol.
Anoiteceu e a lua nova já despontava anêmica e fininha, quando as meninas vibraram ao entrar no mar. Mesmo sob luz fraca, suas ondas pareciam bordadas com uma linha brilhante, fosforescente.
Desde que sua mãe, bióloga, explicou o que era, Carolina ficou fascinada, precisava mergulhar na barra das ondas para tocar seu brilho. Quanto mais mexiam, mais brilhava a água.
— Hoje está bonito demais! Carolina gritou. — As bioluminescências.
Andressa se interessou.
— Por que brilham tanto assim?
— Reação química. Em geral, quando a água está mais quente e com muitos nutrientes, os microorganismos como algas e plânctons reagem com o oxigênio. Tem um nome, luci, alguma coisa.
— Quando vêm as ondas, ou quando a gente se mexe, o brilho aumenta! Andressa comemorou, lembrando que o riozinho morno esquentava a água do mar.
— Acho que se chama luciferina, depois confirmo na internet. É isso que reage com o oxigênio. Falou Rui.
— É como nos vagalumes! Andressa suspirou e Carolina comemorou.