Vale dos Pinheiros

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Capítulo 29﹘Astronautas

— Comando Marte Profundo chamando Jipe da Superfície, responda, por favor. Chamou Helena.
— Jipe da Superfície na escuta. Respondeu Rafael.
— Não esqueça de passar pela sala antirradioatividade ao retornar da sua patrulha. Respondeu Helena.
— Muito bem. Vamos manter sua tripulação protegida contra qualquer radiação espacial. Rafael completou.
Andressa, deitada no sofá assistindo a um desenho animado, soltou uma risada. Não conseguia entender como seu irmão tinha paciência para lembrar todos os detalhes chatos que a prima o forçava a decorar. Se ele não brincasse “direito”, eles nem começavam, porque Helena levava suas viagens espaciais muito a sério.
Precisavam de dois tipos de traje espacial quando viajavam em sua nave, um interno e outro externo, para as caminhadas espaciais, ou atividades extra-veiculares. Constantemente passavam por estações de descontaminação, com tecnologia “anti-radioativa”, e coitado dele se esquecesse de colocar ou retirar seu capacete imaginário!
— Pode me dar sua posição exata? O menino perguntou pelo interfone que tinham feito com duas latas e um barbante. Helena esperava ganhar um walkie-talkie, de verdade, no Natal. Mas, naquele momento, é o que tinham, e até que funcionava bem.
— Estamos na sala de comando subterrâneo, no andar 27.
— Copiado. Já estou dentro do transporte vertical e descendo.
 Lá fora, a chuva caía sem parar e Carolina voltava, abrindo um pote cheio de pé-de-moleque que eles tinham feito no dia anterior.— E aí, pessoal da agência espacial? Querem pé de moleque? Carolina ofereceu para o grupo.
Helena poderia até não aceitar sair debaixo da mesa, onde ficava sua estação marciana subterrânea, mas Rafael não resistia quando se tratava de comida, especialmente se fosse doce. E que delícia eram esses feitos em casa. Não era duro demais para quebrar, nem mole demais para grudar no dente. Apenas crocante e derretia na boca. 
Em dois segundos, o menino tinha abandonado seu posto e estava sentado no tapete, na frente do sofá. A menina também acabou não resistindo e, após soltar seu capacete imaginário, acompanhou o primo.
— Sinto saudade das comidas da Terra, que bom que essa missão trouxe um pouco de pé-de-moleque espacial pra gente. Disse ela, sem sair do personagem.
Só para provocar, Andressa perguntou sobre seus “trajes espaciais”:
— Por que você está de capacete, se está a vinte e sete andares abaixo da superfície?
— Porque trabalho numa área sujeita à despressurização. Ela respondeu. — O capacete dele, por exemplo, tem muito mais funções do que o meu, porque ele estava no jipe, na superfície planetária. Disse, apontando para o Rafael.
— Entendi. Andressa concordou.
— E se a gente estivesse em órbita, no vácuo, ou caminhando pela superfície de outro planeta, a tecnologia seria completamente diferente. Ela apontou para uma pilha de roupa que tinham deixado na poltrona/nave. — Primeiro, você veste o macacão refrigerado que controla a temperatura. Disse ela mostrando seu pijama vermelho. — Depois, você entra na vestimenta extraveicular, que regula a pressão em lugares sem atmosfera. Disse Helena, pegando os casacões de inverno da avó. — E, por último, o suporte de vida primário. Desta vez, ela pegou a mochila da escola. — Onde seu oxigênio é armazenado.
— Hoje está chovendo, mas ainda muito quente pra vestir tanta roupa, uma em cima da outra desse jeito. Andressa reclamou.
— Sem todo esse apoio, você vive no máximo, uns 90 segundos, em condições adversas, fora do planeta. Helena ajeitou sua pilha de roupas, olhando feio para a prima.
— ‘Tá certo. Vou me lembrar disso.