
Nessa manhã, as meninas começaram o dia pedindo coisas. Primeiro precisavam de um vidro de maionese, vazio. Helena infernizou até que a avó mudou a maionese para um recipiente de plástico. Carolina já tinha separado os ingredientes: uma colher de detergente de coco branco e duas colheres de vinagre. Andressa desenhou a figura do saci que pretendiam colar na tampa.
As meninas tinham visto uma dessas experiências que viralizam nas redes sociais: construir um redemoinho de saci. De acordo com o folclore, o saci viaja num redemoinho. Depois de misturar tudo, era só chacoalhar com movimentos circulares, pro ele aparecer debaixo do saci.
Rafael, o “sobremesariano” (viciado em doce), entrou na cozinha atrás do bolo de chocolate perfeito que a avó preparava, com aquela casquinha crocante de chocolate e açúcar, quando viu as meninas com o vidro na mão:
— Nossa! Vocês conseguiram capturar um saci? Jogaram a peneira em cima do redemoinho? Como conseguiram fechar ele dentro do vidro? O menino falou, impressionado. As meninas iam explicar, quando ele começou a rir:
— Já vi esse truque na internet. Fica bem bacana. Ele disse. — Os gênios das mil e uma noites também podem ser presos em garrafas, lâmpadas ou em anéis. Será que eles seriam parentes dos sacis? Ele perguntou bem sério. Só pode. O saci só pode ser um tipo de gênio!
Carolina franziu as sobrancelhas, pensando que, por mais que parecesse maluco, fazia muito sentido:
— Pela literatura, eles não têm nenhum parentesco, mas o que você disse está certo. — Será que a gente conseguiria capturar um gênio do tipo do Aladim? Helena começou a viajar nas suas ideias malucas.
— É preciso astúcia, encantamentos, magia. Acho que dá pra prender um deles, sim. Carolina concordou.
— Ia ser demais. Eles podem atender três pedidos e nós somos quatro. Andressa se preocupou. — Todos os desejos vão ter que ser em comum acordo.
— A gente devia tentar. Aos invés de jogar a peneira em cima de um redemoinho de vento, a gente devia jogar num redemoinho de areia. Carolina respondeu, confiante.
— Vocês dois são bem tontinhos. Não tem tempestade de areia por aqui. Só no deserto do Saara. Andressa explicou.
— Ouvi no jornal que teve uma aqui perto, na área rural das plantações. Numa época de muita seca. Helena argumentou, agitada.
— Isso só acontece devido às mudanças climáticas. Que loucura. O normal das tempestades de areia é nos desertos, como no Saara e no Atacama. Explicou Carolina.
— Olha o que vi aqui no laptop da mamãe, os ventos podem ser de 100 km por hora e no Saara, as tempestades transportam até 260 milhões de toneladas de areia por ano. Completou Andressa.
— Verdade. Já ouvi que até teve um feito de fogo, no deserto. Rafael se arrepiou.
— Ou em Marte. Dizem que lá, toda hora, tem tempestade de areia. Lembrou Helena.
— E os camelos e dromedários são os animais melhor adaptados às tempestades de areia. Eles têm uma terceira pálpebra que fecha na horizontal e protege das partículas de poeira! Andressa se animou. — O pelo, as patas, a gordura que eles armazenam nas corcovas, tudo adaptado pra viver no deserto!
— Eles deviam mandar os camelos para começar a colonizar Marte! Rafael não resistiu.
— Tonto, lá tem muita radiação ultravioleta, precisamos viver debaixo da terra, seria melhor mandar um tatu. Helena suspirou. — ‘Tá mais fácil você capturar um gênio!
A avó, que estava ouvindo a conversa de longe, começou a cantar uma música “Reconvexo” do Caetano Veloso: — Eu sou o vento que lança a areia do Saara sobre os automóveis de Roma. Eu sou a sereia que dança, a destemida Iara, água e folha da Amazônia.